Monday 27 April 2009

instalo a tua imagem
num lugar inacessível
e num sussurro que quase não ouves
digo-te que às vezes escuto teus passos

Monday 13 April 2009

escrito inteiro

quero-te escrito por inteiro,
como se querem as palavras
umas às outras,
quando se desgarram
em torrentes da ponte do lápis que seguro entre os dedos,
e aprisionam a lenta caminhada do sangue em minhas veias

por inteiro e por escrito,
para que as entrelinhas estejam nas linhas,
todas elas escritas com o mesmo sangue
que não atravessa inerte a barreira do lápis
Há um sagrado que apenas as palavras habitam,
fagulhas em subida incandescente na direção do céu escuro
a passeio montadas nas suas suaves e soluçantes ondas

Se as sigo, fogem.
Se as encontro, estalam.
Só elas sobrevivem ao que está ao seu alcance.

Na maioria das vezes, valem o que estilhaçam.
Eis-me desamarrada, tal como previras.

Não sem dor, nem sangue,
nem sem querer voltar atrás
e não poder
porque tudo já está na frente, adiante,
agora - por que esperar?

Eis-me aqui, desamarrada e desarmada.

Tu que previste o fim das minhas cordas,
sentas-te e olhas-me do fundo dos tempos,
teus olhares como cordas que não mais me acordam
mas me armam me recordam me amam.

Eis-me
desamarrada
desarmada
pobre, seca e espalmada na parede onde antes
me amarravas e armavas com as tuas palavras.

Saturday 4 April 2009

Há uma camisa
em que gosto que te recolhas.
Ao te virares
faz menos sombras,
os teus olhos
brilham mais nítidos,
e a aragem que levantas
entorpece-me mais os sentidos.