resto-me desapareço submerjo desfaço-me
à minha volta
o silêncio impenetrável
o olhar de âmbar desbotado
o perigo do quintal dos outros
o coração a incendiada respiração aflita
volto apago-me desinflamo os nervos da pele
aplico as saudáveis e transparentes compressas do amor próprio
invado-me violento-me desgarro-me para dentro de mim
para não ir ao teu encontro
encontro a solidão ao meu lado e viro-me para o outro
a porta está fechada e tu estás
mas não abres, nem eu abro
nem eu sei nem eu peço nem eu falo nem eu nada
tudo faz em mim e eu não faço
fico à espera, sentada à borda d'água
diante do espelho infiel da tua alma
perdida nas miragens nas incertezas nas impurezas perfeitas
diante do que trazes
retraio encosto meu estômago às paredes das minhas costas
percorro aflita as janelas entreabertas das casas que me habitam
nada me diz me faz me respira me é nada
a não ser o meu desejo incontrolável de que seja
e a minha tortura diária de a todo custo
não querer livrar-me de mim
Tuesday 24 March 2009
Monday 23 March 2009
Os gestos
imprecisos
do mar da minha ilha
entreabrem-me os sonhos aos gritos.
Entregam-me às vagas entranhas doces
das nuvens altas plenas de canto.
Controem-me ventos sem tréguas por todos os ramos
enquanto sussurram e me desatam das velas sonoras do manto da vida.
A cada golpe do tempo, sou sua construção desconstruída.
E não há nada, a não ser o azul e o alívio do fardo dos dias.
imprecisos
do mar da minha ilha
entreabrem-me os sonhos aos gritos.
Entregam-me às vagas entranhas doces
das nuvens altas plenas de canto.
Controem-me ventos sem tréguas por todos os ramos
enquanto sussurram e me desatam das velas sonoras do manto da vida.
A cada golpe do tempo, sou sua construção desconstruída.
E não há nada, a não ser o azul e o alívio do fardo dos dias.
Voltas por um instante
e ocupas todo o espaço,
numa reconstrução precisa potente exata
da queda que perfaço dia a dia.
Nada disto é fácil
mas tudo isto é ímpeto.
E eu me entrego
porque não há porque não
e eu me revelo e me retorço e me descubro
face oculta do quarto escuro onde guardo a tua imagem.
Tu não voltas
não te entregas
não permites que a minha mão se aproxime
nem que a minha ideia te toque
mas eu te percebo atento
porque és forte no meu pensamento
e denso no espaço ao meu redor.
e ocupas todo o espaço,
numa reconstrução precisa potente exata
da queda que perfaço dia a dia.
Nada disto é fácil
mas tudo isto é ímpeto.
E eu me entrego
porque não há porque não
e eu me revelo e me retorço e me descubro
face oculta do quarto escuro onde guardo a tua imagem.
Tu não voltas
não te entregas
não permites que a minha mão se aproxime
nem que a minha ideia te toque
mas eu te percebo atento
porque és forte no meu pensamento
e denso no espaço ao meu redor.
Sunday 22 March 2009
Thursday 19 March 2009
Wednesday 18 March 2009
Acordo fechada estremecida
com a respiração à espera.
É a mesma parede dura à minha volta
o mesmo fosso de pedra
a mesma janela inútil.
(Não me iludo nem me perco
daquilo que sonho. Vejo tudo e nada alcanço.)
O muro fecha-se sobre mim,
e quando me aproximo e levanto as mãos
as pedras esboroam-se no ar
porque são feitas de vento
porque sou feita de vento
porque és vento e não és feito.
Atiro-me ao alto
esperando encontrar-te na caída
mas não há nada a não ser nuvens
que me atravessam como facas
que me engolem cospem
gritam que me vá que esqueça
que mergulhe no mar de lodo que me apresentam
e que nelas deseje afogar-me porque não posso encontrar-te.
Desfaço-me nas lágrimas que não choro
e canso de olhar-me no espelho
e ver refletida uma espera inútil e estúpida
que não se move nem se acaba
mas permanece ansiosa e austeramente atenta.
E a cada fim o olhar que persegue
o passo que insinua o caminho que não se atreve.
Imaginar-nos suspensos no ar das próprias durezas
presos às decências das certezas
inertes diante dos desejos que afloram e regurgitam sensatez
num movimento de estômago doente que não sabe digerir-se
e se transforma no tédio assustador dos sentidos,
e querer-nos livres e libertos,
soltos dos fios que torcem e enfeiam.
Querer-nos possíveis de alcance.
Querer-nos fogo.
Querer-nos difusos, mas presentes.
com a respiração à espera.
É a mesma parede dura à minha volta
o mesmo fosso de pedra
a mesma janela inútil.
(Não me iludo nem me perco
daquilo que sonho. Vejo tudo e nada alcanço.)
O muro fecha-se sobre mim,
e quando me aproximo e levanto as mãos
as pedras esboroam-se no ar
porque são feitas de vento
porque sou feita de vento
porque és vento e não és feito.
Atiro-me ao alto
esperando encontrar-te na caída
mas não há nada a não ser nuvens
que me atravessam como facas
que me engolem cospem
gritam que me vá que esqueça
que mergulhe no mar de lodo que me apresentam
e que nelas deseje afogar-me porque não posso encontrar-te.
Desfaço-me nas lágrimas que não choro
e canso de olhar-me no espelho
e ver refletida uma espera inútil e estúpida
que não se move nem se acaba
mas permanece ansiosa e austeramente atenta.
E a cada fim o olhar que persegue
o passo que insinua o caminho que não se atreve.
Imaginar-nos suspensos no ar das próprias durezas
presos às decências das certezas
inertes diante dos desejos que afloram e regurgitam sensatez
num movimento de estômago doente que não sabe digerir-se
e se transforma no tédio assustador dos sentidos,
e querer-nos livres e libertos,
soltos dos fios que torcem e enfeiam.
Querer-nos possíveis de alcance.
Querer-nos fogo.
Querer-nos difusos, mas presentes.
Monday 9 March 2009
lisboa
entre paisagem e ficção
flutuas à minha volta
como um vento acre e salgado
que soprasse do mar que te engole
mostras os dentes selvagens
entre as gengivas que me devoram
e nada pareces respirar
do oxigênio que me roubas quando acordo
faca, lança, flecha cravada
no centro da minha carne em chamas
és um misto de raiva perfurante
e pesadelo de bagas suor madrugada
o que exalas é o que pensas
e nada do que sinto preenche
o espaço que arrancas à força
de cada um dos meus dias
atônita assisto em agonia
e antes fosse esse um estado eterno
e não apenas uma fugaz amostra
daquilo que me consome no tempo
atravesso as noites de areia
com o camelo da tua lembrança
agarrado à minha esquerda,
seguro numa mão que não prende
entre paisagem e ficção
flutuas à minha volta
como um vento acre e salgado
que soprasse do mar que te engole
mostras os dentes selvagens
entre as gengivas que me devoram
e nada pareces respirar
do oxigênio que me roubas quando acordo
faca, lança, flecha cravada
no centro da minha carne em chamas
és um misto de raiva perfurante
e pesadelo de bagas suor madrugada
o que exalas é o que pensas
e nada do que sinto preenche
o espaço que arrancas à força
de cada um dos meus dias
atônita assisto em agonia
e antes fosse esse um estado eterno
e não apenas uma fugaz amostra
daquilo que me consome no tempo
atravesso as noites de areia
com o camelo da tua lembrança
agarrado à minha esquerda,
seguro numa mão que não prende
antes escora a rédea escura
areia e areia a toda a volta:
nem praia nem mar batido na rocha
areia de coração embrulhado
nos lençóis do teu vento azedo
areia e areia a toda a volta:
nem praia nem mar batido na rocha
areia de coração embrulhado
nos lençóis do teu vento azedo
Os vãos das escadas antigas
apagam-se das casas da minha cidade.
Cada pedra arrancada, espádua rasgada,
subtrai-me à existência do mundo
e pouco escapa à fúria que dilacera o tempo.
Estar de pé e viva não é nada:
pior é andar entre mortos
e encontrar secos em cada esquina
os cadáveres de cada um dos pequenos amores negados.
apagam-se das casas da minha cidade.
Cada pedra arrancada, espádua rasgada,
subtrai-me à existência do mundo
e pouco escapa à fúria que dilacera o tempo.
Estar de pé e viva não é nada:
pior é andar entre mortos
e encontrar secos em cada esquina
os cadáveres de cada um dos pequenos amores negados.
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