e se estás em mim é porque o meu tempo
é essa minha palavra inventada.
Existes porque te escrevo.
Posso penetrar-te e incorporar-te,
posso dizer e ser dita,
perfurar-me sem sangue e
vestir-me agonia no esvaziar das veias.
Quero ser-me todo dia.
Os canais dos meus rios estão abertos
para que me navegue e descubra
cada uma das palavras que ainda não sou.
Invento o tempo em que me crio
eu própria feita linguagem.
O risco que corro é assassinar o tempo inventado.
E quando quero sonhar-te ao meu lado
e acordo com a impressão dos teus dedos,
preciso tirar do fundo da cama a caixa
onde as minhas palavras se guardam à noite,
e soltá-las todas todas todas
todas soltas e abertas e vorazes
asas palavras na imensidão dos meus sonhos.
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