Wednesday 18 March 2009

Acordo fechada estremecida
com a respiração à espera.

É a mesma parede dura à minha volta
o mesmo fosso de pedra
a mesma janela inútil.

(Não me iludo nem me perco
daquilo que sonho. Vejo tudo e nada alcanço.)

O muro fecha-se sobre mim,
e quando me aproximo e levanto as mãos
as pedras esboroam-se no ar
porque são feitas de vento
porque sou feita de vento
porque és vento e não és feito.

Atiro-me ao alto
esperando encontrar-te na caída
mas não há nada a não ser nuvens
que me atravessam como facas
que me engolem cospem
gritam que me vá que esqueça
que mergulhe no mar de lodo que me apresentam
e que nelas deseje afogar-me porque não posso encontrar-te.

Desfaço-me nas lágrimas que não choro
e canso de olhar-me no espelho
e ver refletida uma espera inútil e estúpida
que não se move nem se acaba
mas permanece ansiosa e austeramente atenta.

E a cada fim o olhar que persegue
o passo que insinua o caminho que não se atreve.

Imaginar-nos suspensos no ar das próprias durezas
presos às decências das certezas
inertes diante dos desejos que afloram e regurgitam sensatez
num movimento de estômago doente que não sabe digerir-se
e se transforma no tédio assustador dos sentidos,

e querer-nos livres e libertos,
soltos dos fios que torcem e enfeiam.
Querer-nos possíveis de alcance.
Querer-nos fogo.
Querer-nos difusos, mas presentes.

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