Monday 9 March 2009

lisboa

entre paisagem e ficção
flutuas à minha volta
como um vento acre e salgado
que soprasse do mar que te engole

mostras os dentes selvagens
entre as gengivas que me devoram
e nada pareces respirar
do oxigênio que me roubas quando acordo

faca, lança, flecha cravada
no centro da minha carne em chamas
és um misto de raiva perfurante
e pesadelo de bagas suor madrugada

o que exalas é o que pensas
e nada do que sinto preenche
o espaço que arrancas à força
de cada um dos meus dias

atônita assisto em agonia
e antes fosse esse um estado eterno
e não apenas uma fugaz amostra
daquilo que me consome no tempo

atravesso as noites de areia
com o camelo da tua lembrança
agarrado à minha esquerda,
seguro numa mão que não prende

antes escora a rédea escura

areia e areia a toda a volta:
nem praia nem mar batido na rocha
areia de coração embrulhado
nos lençóis do teu vento azedo

1 comment:

  1. Puxa, obrigada! Espero que possamos (também) nos conhecer melhor pessoalmente, mas mantendo a prosa virtual, que é deliciosa. (Adoro me comunicar por escrito!!)
    Mantenha-me a par dos eventos e iniciativas demetrianas, culturais, comunitárias e educativas!

    Beijão

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